quinta-feira, 10 de março de 2011

"Saudade mata a gente, menina".

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um amigo gay (que nao é gay) que se esconde...
Saudade de uma cachoeira em que se casa.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.

Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama...
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença e até da ausência consentida.
Você pode ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você pode ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, e ela o dia sem vê-lo, mas sabiam -se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor que o do outro,
sobra uma saudade que ninguém sabe como deter...

Saudade é basicamente não saber.
Não saber se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia tipo de cigana...
Não saber se ele foi na consulta com o medico como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada.
Se ele tem se preocupado menos com a obra, que sempre traz surpresas;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele aprendeu a entrar na internet e encontrar tempo pra responder seus muitos e-mails;
se ele continua preferindo cerveja brasileira;
se ela continua preferindo coca cola;
se ela continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ele continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ele continua detestando MC Donald's;
se ela continua amando tanto;
se ela continua a chorar até nas comédias românticas e ele
sem dar muita atenção as seus gostos musicais...

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos.
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música.
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está feliz,
e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro; se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora... depois que acabou de ler...

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Daisy Costa

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Achei lindo esse texto de uma amiga escritora e pedi permissão para postar
e dividir com o mundo. Porque saudade mesmo sentimos é das coisas pequenas.
Guilherme Castelo

Um comentário:

Guilherme Castelo disse...

Do C... Daisy... Eu tinha que postar! Muito lindo. Parabéns! bjs!

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