domingo, 4 de outubro de 2009

Dicionário Papa-chibé I



A LÍNGUA PARAENSE
AÇU - Na língua paraense o sufixo é muito usado e significa grande. Dizem os sabichões que deriva do tupi.
EXEMPLO:
Duas gatinhas estão dando uma volta pelo shopping. De repente, uma delas aponta para um coroa que vai passando e coenta:
- Tá vendo aquele, cara?
- Tô.
- É um sacana-AÇU. Fez meu mano perder um milhão de reais.
- Égua! Foi na poupança, algum negócio, transação imobiliária? - Nada, mana. Ele não deixou o meu irmão casar com a filha dele...
BUIADO - Endinheirado, cheio da grana.
EXEMPLO:
O marreteiro explica para um conhecido dele ali na Feira da Praça da República: - Tô vendendo agora estatuetas do Cristo Redentor. Tremendo negócio. Tô vendendo de montão. Vou ficar rico, cara. - Tenho cá as minhas dúvidas? - Por que? - Ora, Judas vendeu o próprio Cristo e não ficou BUIADO...

CABOQUEAR - Paquerar, namorar, dar uns amassos nas morenas do interior.
EXEMPLO:
O casal está emboletado num banco de praça e pinta um guarda. - Êpa! Não pode ficar CABOQUEANDO aqui na praça depois das 11 da noite. Diz o cara: - Olhe, seu guarda, nós somos casados. - Por que não vão conversar em casa? - Égua, seu guarda! Se formos pra casa, o marido dela me mata...

DESMANCHO - Desarranjo intestinal, forte disenteria.
EXEMPLO:
O pirralho era por demais guloso, a mãe chegava a ter vergonha de levá-lo na casa dos conhecidos. Vai que um dia uma amiga telefona e convida para o aniversário do filhinho. O guloso começa a pentelhar a mãe: - Ei, mãe! A gente vai, né? Vai ter brigadeiro, empadinha, arroz de galinha, refri, vai ser legal à beça. Não posso perder. A mãe foi conversar com o marido. Ele resolveu: - Leva Isaurinha. Tá na hora desse estômago de avestruz aprender a se comportar à mesa. No dia da festinha, a mãe marcava o guloso sob pressão. Todo tempo colada nele. Depois do pestinha ter se empanturrado, a mãe ordenou: - Agora, chega, Candiruzinho ou você vai acabar tendo um DESMANCHO daqueles de tanto comer porcaria. Vai acabar estourando!

ÉGUA - Eras! Puxa! Pô! É uma das expressões mais peculiares da língua paraense.
EXEMPLO:
Passam duas mulheres em frente a um bar. Um dos sujeitos que está lá, comenta com o outro: - Ih, cara, tô frito. Olha só quem vem lá: a minha mulher e a minha amante, juntas. E o outro também no maior desespero: - ÉGUA! Você me tirou a palavra da boca!

FLOSÔ - Numa boa, tranquilamente, sem problemas.
EXEMPLO:
O casal, a mulher um bagulhão, coroa, cheia de varizes, foi ver uma casa para alugar. No que chegaram no quarto a gordona alertou para uma janela enorme. - Xi, preto, temos que comprar uma cortina pra cá. Senão o vizinho vai ficar me espiando. Você compra a cortina? - Compro, nada! Deixa ele ver a primeira vez que depois eu fico DE FLOSÔ e ele mesmo compra a cortina e coloca...

GIQUIGI - Apertado, pequeno, justo.
EXEMPLO:
O maridão convidando a esposa para irem curtir uma festança na roça na casa de um conhecido dele. - Nega, vai te aprontar. Vamos lá na casa do Noca que o lance vai ser porreta. - Tudo bem, já tô indo. - Olha, nega, bota aquele shortinho que eu te dei, aquele jeans... - Ah, aquele não dá, mô. - Por que, já? - É que eu engordei um pouco e ele tá muito GIQUIGI...

HEN-HEN - O vocábulo - de origem tupi - na língua paraense equivale a uma afirmação: sim.
EXEMPLO:
Uma repórter vai entrevistar um jogador de futebol pouco antes dele adentrar no gramado. - Por favor, uma perguntinha rápida ao nosso microfone. Seguinte: você tem o costume de transar antes dos jogos? E o jogador: - HEN-HEN! Não só antes do jogo como também depois. Só não faço sexo durante porque Sua Senhoria pode se invocar e me mandar pro chuveiro...

INTICAR - Implicar, intrigar, provocar.
EXEMPLO:
A fulaninha pra lá de boazuda cisma de ver o pôr-do-sol acolá, na Feira do Açaí. De repente, irrompe um elemento, aponta um canivete para a gostosona e obriga que ela o acompanhe até um canto mais ou menos deserto. Em seguida, dá uma transada com a mulher. Mas o sujeito só queria mesmo transar, não feriu a boazuda, nem nada. Ia se mandar quando a vítima berrou: - Êpa! Não fuja, patife! Vou chamar a polícia e denunciar que você abusou de mim sete vezes, de tudo quanto é jeito! O homem bestificado: - Sete vezes, dona? - Isso mesmo! O senhor me usou sete vezes! - Que é isso, dona? A senhora quer me INTICAR, é? Foi só uma vez... - Uma vez, por enquanto. Mas o senhor não está com pressa, está???

JÁ MÉ VU - Adeus, até logo, vou embora.
EXEMPLO:
A patroa depara com o maridão saindo da Pensão da Cotinha completamente embriagado. Lastima: - Poxa, Miquelino, você não faz idéia de como me entristece vê-lo sair assim de um bar. - Eras, Maricota, francamente. Não sei mais o que fazer para te agradar. Ainda ontem você me disse que se entristecia de me ver entrar num bar. Por isso - hi!chic! - JÁ MÉ VU...

KATSU - Um apelido do cacete.
EXEMPLO:
O delegado flagra um sujeito completamente embriagado e dá a célebre voz de prisão: - Teje preso! E o coçado: - Teje preso é o KATSU! Você me prende hoje e amanhã eu tô solto. Mas quando eu lhe prender, você nunca mais vai sair, cara. - E quem você pensa que é pra me ameaçar desse jeito? - Eu sou coveiro do cemitério, pô!

LAMBAIO - Aquele que está sujeito a outro, serviçal.
EXEMPLO:
Urinaldo, que jamais havia bebido, chega em casa embriagado. Aflita com aquilo a patroa de Urinaldo quer saber o porquê daquela situação. E o Urinaldo explica: - Foi o oculista que mandou. - Êpa! Por acaso você é LAMBAIO dele? Não acredito nisso, não! - Pois leia a receita e veja se não diz: "Pinga de hora em hora"...

MUNDIAR - Magnetizar, encantar, assombrar.
EXEMPLO:
Naquele hospital a jovem senhora consulta um catálogo telefônico e de tão concentrada que está, chega nem pisca. A enfermeira pergunta: - Escute, aqui: por que a senhora está assim tão compenetrada? Parece até que a senhora está MUNDIADA pela lista telefônica. O que houve? - Ah, é que eu estou procurando um nome para o meu filho. - Então é isso? Olhe, nós temos aqui uma lista especial com uns 500 nomes para crianças. E a mãe na bucha: - O guri já tem nome, enfermeira, eu estou é procurando pelo sobrenome...

NÃO ENCHE A PEREMA - O mesmo que não chateia, não perturba.
EXEMPLO:
Toda alegrinha a mãe chama a filha de sete anos e pergunta que presente ela quer ganhar de aniversário. A menina responde: - Pílula! Estupefata a mãe indaga: - A pílula? Mas por que a pílula, minha filha? - Ora mãe, NÃO ENCHE A PEREMA! Eu já tive sete bonecas e não quero ganhar mais uma...

ORA, NÃO ME RACHA - Não enche, não amola, não aporrinha.
EXEMPLO:
Dois colegas estão levando um papo esperto. Um deles pergunta: - Escuta aqui, cara, o que tu quer ser quando crescer, hein? - Ah, eu quero ser todo cabeludo, cara. - ORA, NÃO ME RACHA! Isso não é profissão! - É, mas rende à beça. A minha irmã só com um pouquinho de cabelo no lugar certo sustenta a família inteira...

PAI-D'ÉGUA - Ótimo, perfeito, maravilhoso.
EXEMPLO:
A gatinha se aproxima da mãe com ar de superioridade: - Lembra, mãe, quando a senhora me ensinou que o caminho do coração de um homem passa pelo estômago? - Claro, que lembro, meu bem. - Pois vou lhe contar uma coisa: acabo de descobrir um caminho muito mais PAI-D'ÉGUA!

PAPACHIBÉ - É o apelido que designa quem nasce no Pará.
EXEMPLO:
As duas turistas que vieram curtir as festas de fim-de-ano com a família, passam em frente a uma construção. Uma delas comenta chateada para a amiga: - Nossa! Esses PAPACHIBÉS são uns grossos! - São mesmo! Todos eles, sem exceção. - Pois é. Essa é a segunda vez que a gente passa por aqui e eles - ó - nada. Nem deram um assoviozinho pra nós...

QUIRIRI - Quieto, manso, tranquilo.
EXEMPLO:
O sacrista é flagrado assaltando uma joalheria e é levado à presença do delegado que o interroga: - Então, o senhor confessa que forçou a porta da loja usando um pé-de-cabra? - Sim, doutor, eu confesso. - Mas o senhor fica aí todo QUIRIRI, não está arrependido? - Não, senhor. Queria só cumprir o último desejo do meu pai. - Como assim? Seu pai por acaso queria que senhor fosse ladrão? - Não, senhor. Mas o sonho do meu velho era que eu abrisse uma joalheria...

ROER UMA PUPUNHA - Encarar uma grande dificuldade, ter que superar um problema difícil.
EXEMPLO:
Numa jornada de autógrafos no Centur, o sujeito pergunta para um conhecido: Ah, meu chapa, para ganhar a vida eu tenho que ROER UMA PUPUNHA. Eu escrevo. - O senhor tem quantos livros publicados? - Nenhum... - Eu sei, o senhor escreve para jornais e revistas, não é? - Também não. Escrevo todos os meses pedindo para minha família...

SUCO, SUMANO - Uma expressão de espanto e de perplexidade.
EXEMPLO:
O garotão chega em casa morto de fome e é recebido pela mãe toda sorridente, que fala: - Oi, filhão! Você nem sabe o que tem ali na cozinha, guardadinho pra você... O garotão todo derretido: - Ôba! Você fez aquele doce de cupu? Ou foi pudim de bacuri, hein, mãe? - Negatofe! Na porta da cozinha tem 5 sacos de lixo pra você levar pra rua e já... - SUCO, SUMANO!

TUCANDEIRA - De tamanho reduzido, curta, pequena.
EXEMPLO:
A fessora escorrega e cai na sala de aula. Na queda, a saia sobe até a cabeça. Ela levanta-se e passa a interrogar a classe: - Pedrinho, o que você viu? - Sua perna, fessora. - Uma semana de suspensão! Você Joãozinho? - Eu vi seu joelho, fessora. - Um mês de suspensão! Candiruzinho, o que você viu? Candiruzinho levanta pega seu material e vai saindo da sala: - Sabe, fessora, com a queda, sua saia ficou TUCANDEIRA. Turma, até o ano que vem...

URUBUSSERVAR - Ver, olhar, espiar.
EXEMPLO:
O vida-torta vai em cana, mas antes de ir para o xadrez o delegado faz questão de falar com ele. - Ei, Pedrão! Essa é centésima vez que eu tô URUBUSSERVANDO tua cara aqui nesta delegacia! - Sinto muito, otoridade. Não tenho culpa se os zomi num promove o senhor...

VASQUEIRO - Escasso, raro, que há pouco.
EXEMPLO:
Duas amigas batem um papinho. - Sabe, mana, desde que me casei o Neco não me fez mais nenhum carinho, não me procurou mais. - Nossa! Já que ele está assim tão VASQUEIRO, mana, pede logo o divórcio. - Mas como, mana, se ele não é meu marido... XERO - Equivalente a parceiro, camarada, amigo.
EXEMPLO:
Os dois se encontram na Pensão da Cotinha e levam um papo. - E aí, Zequinha, como vai o teu reumatismo? - Olha, tá pai-d'égua, cada vez melhor. - Êpa! Não entendo mais nada. Tu diz que tá pai-d'égua e taí com essa cara de funerária. Que é que há? - Pois é isso, meu XERO. Você perguntou sobre o reumatismo, né? Ele tá cada vez mais legal. Eu é que estou cada vez pior...

ZITO - Uma variação do gito, com o mesmo significado: pequeno.
EXEMPLO:
No restô da Pensão da Cotinha o freguês está enfezado: - Ei, garçom! Venha cá! - Pronto, chefia. - Olhe isso aqui. Esse bife além de ZITO está preto de tão queimado. - É que ele tá de luto, chefia. Ontem morreu um dos nossos cozinheiros!

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Retirado do Geocities. Infelizmente, não encontrei o nome do autor para fazer os devidos créditos. Fica aqui o meu agradecimento, contudo.

Um comentário:

dani disse...

caraca mano, tu é pai'd"égua a vera,foi muito massa ler nossas língua!o paraensês!

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