sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

La Solitudine nel cuori



Quase posso tocar o silêncio,
quase posso tocar a minha solidão
quase posso ver, me espreitando no escuro,
o monstro da depressão.

Se fujo encontro um muro,
se fujo não me sinto seguro,
só fujo buscando evasão
desta maldita solidão.

Mas fico e encaro a verdade,
fico e absorvo a saudade,
fico buscando um escape,
na imaginação.

Que seja evasão ou catarse,
que seja coragem ou não,
escrevo a verdade que arde,
me queimando o coração.

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Original: Guilherme Castelo

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

As sem-razões do amor



Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade
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Homenagem ao grande gênio...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carta aberta para uma amiga que está triste


Então, tá. Lá vem você de novo... Uma amiga tão querida e tão enrolada![ :)] E adoro isso em você, porque demonstra a inquietação do seu espírito jovem e curioso, como de fato devemos ser. Mas sei que também sentes, como eu, sentes muito as dores e prazeres da vida. Por trás desses olhos verdes eu sei que se escondem sentimentos complexos, conflitantes... Esses olhos que parecem janelas para mundos inóspitos e distantes. Por vezes, insondáveis...

Me perguntas por quê me lembro, se nós nos conhecemos há tanto tempo, por tão pouco tempo... Percepções sensoriais e de detalhes. Nossa memória imprime com mais precisão coisas que a impressionam. Você é assim, amiga, impressionante. Mas como ser humano que és, também és um pouco confusa, ou melhor, confundida, por tantas questões de vida, que realmente se atropelam, às vezes.

Sei que irás superar mais esse momento da vida, tal qual todos os que o antecederam. Te conheci uma linda garota, hoje te vejo uma mulher encantadora. E por saber de teus sucessos, e tua trajetória, sei que chegarás ao topo da montanha.

Mas sem ilusões, amiga. Sempre será difícil. Haverá dias lindos de sol, mas sempre haverá tempestades. Assim é a nossa vida, e é bom que seja assim... Mesmo palmilhando caminhos diferentes na vida, gosto de ver que estamos crescendo, cada um a seu modo. Será bom te encontrar no futuro, batalhas vencidas, para contar histórias...

Isso claro, a logo prazo! Mas amizade também requer um mínimo de presença, então te ligo pra tomarmos um café uma hora dessas! Mas falando sério, te desejo muita sorte, muita saúde e muito sucesso. Te digo também que sempre que precisares de um amigo, podes contar comigo.

Acredito que todas as relações, inclusive as de amizade, passam pela admiração, respeito e bem-querer. Então só me falta te dizer que te admiro como pessoa e como exemplo de beleza feminina e personalidade, que te respeito como mulher e como indivíduo de pensamento livre, e que te amo fraternalmente, como um amigo que te deseja o melhor da vida.

Fica bem.
E feliz aniversário!!
Mil beijos.
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Ps. Já que teu amigo te deu um book de presente, representando a arte dele, também te darei um presente, com minha arte... Um poeminha sobre você... Pode não ser tão impressionande como um ensaio, mas tenha certeza que é de coração também. Espero mesmo que goste. Segue abaixo o poema. Parabéns de novo!

Presente de poeta para uma querida amiga distante e um pouco triste

Se eu soubesse,
como seria
naquele dia,
em que te conheci

Imaginaria,
pensando um pouco
que um anjo louco,
pousou ali.

Loucura saudável
Pessoa adorável,
de anjo a beleza,
que logo vi

Verde nos olhos,
cabelos rúbros...
todas as cores
estavam em ti

Imediatamente,
vi seu sorriso
e mais beleza,
brotou de ti

Agora mesmo,
anos passados,
me lembro "peso",
o que senti.

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Original: Guilherme Castelo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Auto-retrato da poesia


Amorfo de mim, sigo pensando,
Com os caminhos da vida, sonhando.
Vejo cada porta ao meu redor,
aberta.

Mas me conheço. E sei, portanto,
que sou honesto, mas nunca fui santo.
No jogo da vida, já sei de cor,
a Meta.

Não seria feliz, no entanto,
se escolhesse fazer, sem encanto,
algo em que não acredito, ou pior,
me afeta.

E no meio do devaneio, estancando,
de súbito, me percebo ignorando,
que do que sei já faço o meu melhor:
Sou Poeta!

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Original: Guilherme Castelo

Auto-retrato da prosa


Sou amorfo de mim. Punhado de argila. Mas consciente. Por isso que é estranho perceber a ausência de forma. Analiso a vida como conheço, e somo a isso, o que sei sobre mim mesmo. Daí analiso as possibilidades. Sempre há vários caminhos, consequência direta de nossas escolhas. Como no xadrez. Lances de espera, lances forçados... Às vezes conhecemos alguém "en passant", a pessoa segue, os lances da vida se sucedem, e lá na frente, essa pessoa se torna importante pra nós. Quantas vezes fazemos "trocas" na vida, para ganhar posicionamento estratégico...

Mas voltemos à forma. O que quero dizer é que vejo tantas coisas que eu poderia ter sido, tantos caminhos diferentes poderia ter seguido, mas, por me conhecer, optei conscientemente por não percorrê-los... Não adquiri a forma que meus pais e a sociedade esperavam. Decidi ficar aqui, massinha de modelar, pensando. E de pensar em tantas coisas, quase enlouqueço, e então, escrevo. Escrevo porque é o que sei fazer, e não entra em conflito com nenhuma outra parte de mim.

Teria sido um péssimo advogado; os clientes culpados iriam pra cadeia. Policial, nunca; teria que andar armado. Nem médico; não teria estômago. Até poderia ser músico, mas não tenho a disciplina necessária. E de repente, no meio do devaneio, percebo a verdade.

Eu sei o que sou:

Sou escritor!

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